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Bem na foto: milho que produz

Bem na foto: milho que produz

24-03-2016

Se as expectativas no plantio eram temerárias devido à influência do fenômeno El Niño, no desenvolvimento da cultura do milho e agora na colheita da safra, o produtor se satisfez com as chuvas e não esquentou tanto a cabeça com o veranico no início de janeiro.

As precipitações climáticas foram especiais para o desenvolvimento das plantas e devem garantir que a safra 2015/2016, seja sim, do cereal. A cultura que perde espaço na região, bem verdade, é fundamental para o sistema de produção de grãos, para as agroindústrias e às pessoas de todo o mundo.

Os investimentos para produzir milho são altos e os riscos com a cultura são maiores sim se comparados à soja, porém, nesta safra, muitos produtores que investiram no cereal e que iniciaram a colheita neste mês de março, estão sorrindo a toa.

A área de milho nesta safra foi a menor da história, com apenas 7 mil hectares destinados a cultura, e diversos fatores influenciam para isso, mas existem aqueles produtores que não deixam de investir no cereal, principalmente porque a rotação de culturas é fundamental para controlar a presença de pragas, doenças e plantas daninhas.

Na Fazenda Olhos D’Água, de propriedade de Eduardo e Juliano Zortea, a rotação de culturas é levada a sério, porém, nesta safra, a área de milho foi menor devido o alto custo de produção e as incertezas do clima. De acordo com Juliano Zortea, a diminuição é próxima dos 30%. “O custo da implantação da lavoura de milho aumentou e por isso teve essa diminuição de área. A ideia é sempre plantar a área igual para fazer rotação de culturas, mas neste ano não fizemos isso e semeamos 130 hectares nesta safra”, comentou.

Mesmo sem finalizar a colheita da área, e com produção aproximada de 12 mil quilos por hectare, Juliano está contente com a produtividade e destaca que o primeiro passo para produzir bem, é corrigir o solo e seguir outros princípios do sistema. “Para produzir bem milho é fundamental corrigir o solo, ter sementes com alta tecnologia, eficiência em plantio e torcer muito para que as chuvas aconteçam. Eu acredito que o principal é plantar em um terreno bom e nesta safra, a cultura é o milho. Na verdade teríamos que ter apostado mais no milho neste ano, mas com custo alto, isso não é possível. A soja tem custo menor e se der qualquer problema climático, o produtor não tem tanto prejuízo, é mais segura”, afirmou ainda.

De acordo com o técnico em agropecuária Silvio Zanon, da Cooperativa Agropecuária Camponovense – Coocam, o custo de implantação de um hectare de milho é próximo de R$ 3.500,00 e isso faz com que somente o produtor que gosta de milho e que realiza corretamente a rotação de culturas, invista no produto. “Planta milho o produtor que gosta da cultura e que sabe que a rotação de culturas é que garante a continuidade da produção. Temos informações e resultados de que investir em soja, após um ano de milho, é melhor tanto em produtividade como de riscos menores de doenças. Mas para produzir milho, é necessário investir em alta tecnologia, desde correção de solo, sementes a manejo”, afirmou.

Sobre este manejo eficiente, o produtor Juliano Zortea destaca que nas áreas de milho, foram realizadas aplicações de fungicidas com avião. “Nós vemos a cada safra que se o manejo da cultura for realizado com eficiência e o clima colaborar, a produtividade ocorre e aqui fizemos tudo que estava ao nosso alcance para que o milho produzisse bem e estamos contentes com a produtividade, pois as sementes tem potencial e o produtor que faz a sua parte, colhe resultados”.

A aplicação de nitrogênio sequencial em duas aplicações foi outra orientação da equipe técnica da Coocam. Segundo Silvio Zanon, a produtividade média do milho na região deve fechar em 185 sacos/ha, números apontados também pelo IBGE. “Foi um ano com variações de clima, com chuvas em início de plantio, que prejudicaram sim a plantabilidade, teve veranico em janeiro, porém, a média deve fechar nisso. Nós podemos afirmar neste início de colheita, que sim, este ano é do milho e com o preço bom, o produtor terá uma boa lucratividade na cultura”, informou ainda Silvio.

O produtor Juliano Zortéa destaca que com os riscos maiores da cultura, o preço de hoje, é um alento para investir na cultura. Vale lembrar, que o preço pago em março, de R$ 36,00 saco/60kg é o maior valor pago ao produtor desde 1999. “O preço do milho nunca esteve tão bom e o produtor que plantou milho vai poder aproveitar esse valor e obter uma renda”, complementou.

Incentivo para investir no milho
Se a produtividade é elevada, a falta de incentivo para que os agricultores invistam na cultura são ainda mais significativos. Na região de Campos Novos, a diminuição de área é expressiva a cada ano e com o alto consumo do cereal, no estado, governo e cooperativas buscam formas de promover a cultura.

Mas para isso, é preciso garantir um preço compatível com os custos, pois hoje, o mercado está aquecido devido à falta do cereal para abastecimento das agroind¬ústrias. Para o produtor Juliano Zortea, incentivar o produtor é o caminho. “Nós já debatemos isso com a cooperativa para que nós possamos plantar mais milho. Precisamos buscar formas de que até a cooperativa incentive o produtor a plantar”, ressaltou.

Cenário em Santa Catarina
De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (FAESC), alguns fatos podem amenizar o superencarecimento do milho. Há previsão de que o preço do milho recue no mercado interno, expectativa baseada em vários fatores. Segundo a Faesc, os portos brasileiros suspenderão neste mês de março o carregamento do milho para embarcar a safra da soja com destino aos diversos mercados mundiais, tradicionais compradores desse grão brasileiro. Essa operação deve se manter até setembro ou outubro. Por outro lado, a partir de junho começa a ser colhida a safrinha de milho, estimada entre 65 milhões e 70 milhões de toneladas.

“Esses dois fatos conjugados significam mais milho para venda e consumo no mercado interno com pressão de venda dos agricultores que desejarão aproveitar o aquecimento do mercado”, prevê o presidente da FAESC José Zeferino Pedrozo.
Paralelamente a essa mudança de cenário, em Santa Catarina, o governo estadual trabalha para trazer de trem o milho do centro-oeste brasileiro através das ferrovias Ferroeste e América Latina Logística. A ideia é embarcar o cereal em Moto Grosso e Mato Grosso do Sul e trazê-lo até Mafra (SC) e Lages (SC). Na mesma direção, as agroindústrias planejam trazer milho do norte pelo transporte de cabotagem, o que também reduziria o custo.

Pedrozo assinala que, no plano internacional, a expectativa de que a China despeje no mercado grandes volumes de milho de seus estoques e a aproximação do início do plantio da nova safra americana, tendem a reforçar o cenário de oferta abundante e, assim, frear a reação altista das cotações do grão na bolsa de Chicago, principalmente se não houver nenhum sobressalto climático.

A conjugação dessas possibilidades aliviará a crise para as agroindústrias, mas os efeitos mais positivos somente serão sentidos no segundo semestre. A avaliação da FAESC é corroborada pelas entidades do agronegócio Organização das Cooperativas do Estado de SC (OCESC), Coopercentral Aurora Alimentos, Sindicato das Indústrias da Carne (SINDICARNE) e Associação Catarinense de Avicultura (ACAV).

Nesse momento, não há escassez nem excesso de milho no mercado, mas a opção pela exportação drenou 30 milhões de toneladas do mercado doméstico para o mercado internacional. Dessa forma, os criadores de aves e suínos e as indústrias pagam, desde o ano passado, o valor correspondente à cotação internacional para comprar milho destinado a sua transformação em carne.

Essa situação afeta todo o País, porém, é mais grave em Santa Catarina que está longe de obter autossuficiência em milho. O Estado é o maior comprador de milho dentro do Brasil. Santa Catarina possui o mais avançado parque agroindustrial do País, representado pelas avançadas cadeias produtivas da avicultura e da suinocultura. Essa fabulosa estrutura gera uma riqueza econômica de mais de 1 bilhão de aves e 12 milhões de suínos por ano, sustenta mais de 150 mil empregos diretos e indiretos e gera bilhões de reais em movimento econômico. Fonte: Felipe Gotz